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Perguntei à minha avó, se, com a velhice, o tempo começa a parecer-nos menos apressado. Ela diz que não, que nunca melhora. E depois fala-me dos móveis da sala, do difícil que é limpar-lhes o pó, e pergunta-me se não preciso de um serviço de chá. 

É que eu tinha a esperança de reaver estes anos que passam sem se demorarem, estão a fazer-me falta aqueles três meses anuais de férias que custavam tanto a passar, aquelas horas intermináveis em que esperei por autocarros. 
Preciso desse tempo, de mais tempo, de ter tempo de sobra. 
Preciso dele para o partilhar com os meus, para chegar mais cedo e sair quando todos estivermos vazios de temas e cheios de tudo o resto. 
Preciso dele para ler, para saber mais das vidas que vêm nos livros. 
Preciso dele para usar as mãos, para começar e acabar projetos que ontem já estavam atrasados. 
Preciso dele para ouvir música, para conhecer novas e não cair na tentação das antigas. 
Preciso dele para cozinhar com mais carinho, devagar, com amor. 
Preciso dele para tentar outra vez, ou mais duas ou três, sem ter medo de o ter desperdiçado assim. 
Preciso de tempo só para parar, para pensar, para finalmente respirar. 

Preciso de tempo e agora a minha avó diz-me que ele não volta nem estica. E depois ficámos as duas a falar de outras alturas em que mesmo havendo esse tempo, nem demos por ele passar.

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